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All We Need Is...

_ Arquitetura te dá aptidão para mais o quê? - indagou-me Renata minha irmã, um belo dia, com tom de indignação.

Mal sabia eu que ela só estava querendo ter certeza do que já tinha percebido e, assim, do quanto ainda poderia me dar de trabalho nessa vida! Estávamos só começando (e quem diria?) pela organização do Casamento dela.

 

Aposto que você nunca pensou em pedir o auxílio de uma Arquiteta para preparar seu casamento. ... Ah, vá! Se pensou, você é um ser muito além do seu tempo! "Te dou um dado?!" Você deve representar 1 em 100! Infelizmente, poucas pessoas sabem que nós, profissionais de arquitetura e design, podemos fazer a diferença na preparação e adequação de espaços; TODOS os espaços. No caso de uma festa, uma exposição ou uma feira, lidamos com a Arquitetura Efêmera; ou seja, feita para ser desfeita em alguns dias, ou no mesmo dia.

 

Renata não precisou saber de nada disso pra, de repente, me perguntar também: _ Como nós vamos fazer meu casamento? "Nós?!?!" - fiquei pensando. Pois bem, depois dessa pergunta sem resposta tive um ano de muito trabalho, mas também de muuuuito deleite! Preparar um momento tão único e tão cheio de significado na vida dela e do Paulo foi um prazer sem tamanho.

 

Primeiramente, tratei de definir um conceito, um partido, para amarrar tudo: desde o convite, passando pelo vestido, sapatos, decoração, brinde aos padrinhos, até as lembrancinhas. Tudo foi cuidadosamente pensado. (E, pode acreditar, até da escolha do terno do noivo eu participei. Aprendi tudo a respeito, inclusive!) Os noivos queriam uma proposta simples, porém elegante; singela, mas sem mimimi. Entretanto, como todo projeto tem seu desafio (e eu adoro!), tive que desenvolver a aplicabilidade dessa ideia num Salão de Festas com capacidade para o triplo de convidados e com áreas de circulação muito prejudicadas por sucessivas reformas. Assim, como tudo que é efêmero, começamos por requalificá-lo com estruturas temporárias de painéis de madeira em forma de estrado ou recobertos com tecido, que fizeram parte de todo o conceito.

 

Optamos então por cores complementares, como verde e vermelho, para dar ênfase à mensagem nos detalhes, e cores neutras, entre bege e marrom, para compor com leveza e simplicidade os elementos de textura e simbologia. Escolhemos objetos pessoais e outros do artesanato mineiro que deram identidade - e um tom de aconchego, até - ao evento, e outros elementos de acabamento rebuscado, identificados no cotidiano e nas referências do casal, para dar a elegância necessária ao momento. Arrematando a decoração com graça e pureza, escolhemos flores da época cujas imperfeições foram, na verdade, perfeitas para harmonizar toda a ideia proposta.

 

Os tons de vermelho (incluindo derivações, como laranja e rosa) e verde estavam presentes em todas as flores, nos principais painés de fechamento, na cortina de franjas atrás da Mesa do Bolo, na árvore (Eh, "não contavam com minha astúcia"! Colocamos uma dentro do salão! Confira abaixo.), nas garrafinhas com flores, nas almofadas e nas lembrancinhas dos convidados. Detalhes que marcam a humildade dos noivos e o carinho com que fizeram a festa e os elementos por eles confeccionados (Sabe de naaada, inocente!!! É isso mesmo! Você vai ver quanta coisa eles... ou melhor, nós fizemos com as próprias mãos!).

 

Entre os tons neutros, ficaram as texturas do sisal e da madeira, e os painéis dos locais que deveriam ser mais discretos (como em frente aos banheiros). Dessa forma, a trama de sisal foi usada nas luminárias das mesas dos noivos e nas bolas-castiçais dos centros de todas as mesas de convidados. Não bastasse isso, com sisal também foi feita uma delicada trama no Convite do Casamento, que já criava no convidado uma real expectativa do que o aguardava. A madeira teve seu caráter aconchegante potencializado com o uso de duas mesas clássicas da Vovó Dirce (nossa avó): uma em madeira de lei, e com um lindo e raro trabalho de marcenaria, e a outra com a carinha de "bem-vivida", "experiente", que queríamos. Na recepção dos convidados ficou a primeira, que expira muita elegância pelo desenho, onde colocamos os porta-retratos do casal e a pequena escultura "LOVE"; e, no meio do salão, colocamos a outra, que chamava a atenção pelo verniz gasto contraposto pelo desenho delicado, com os pratos quentes da noite.

 

Se você achou que para cada detalhe foi contratada uma empresa ou um prestador de serviço, já pode ver que se enganou, né?! "Os detalhes não são detalhes. Eles fazem o projeto", disse um dia Charles Eames. As mesas da Vovó foram só alguns destes detalhes que fizeram toda a diferença. Eles proporcionaram aos noivos e família a oportunidade de compartilhar muitos momentos juntos em prol deste Casamento. De curtir cada preparativo, de conviver, de aplicar o talento de cada um e ver a vontade de todos em ajudar e fazer acontecer, com muito amor, este dia tão especial e tão esperado por eles. Estes detalhes foram carregados de boas energias e levados aos convidados que, sem saber muito bem o porquê, ficaram visivelmente emocionados e admirados com o ambiente criado. Além de deixar a Vovó Dirce sem mesa por um fim de semana, ousamos fazer também:

  • o arranjo dos centros de mesas dos convidados (com garrafas de água "São Lourenço" trazidas por mim de uma viagem à cidade, bolas de sisal compradas no Mercado Central de BH/MG, gel de cabelo comprado para apoiar as velas no copo maior e troncos de árvore cerrados e encomendados para a ocasião);

  • luminárias de sisal compradas no Mercado Central de BH, cuja parte elétrica foi montada pelo pai da noiva;

  • as embalagens de chita dos bem-casados (chita esta comprada pela noiva e cortada, em casa, pela família toda);

  • as almofadas de chita, cujo tecido foi comprado, cortado e costurado também em família, e com frases pintadas por mim com papel transfer;

  • a árvore montada com galhos de jaboticabeira colhidos pelo noivo;

  • as mesas baixas, laterais a Mesa da Recepção feitas com barril de cachaça - comprado pelos noivos em São Gonçalo/MG, já cortado e tratado, que recebeu ainda um vidro redondo de tampo (também encomendado pelos noivos, sob minha orientação);

  • a cortina de franjas, incansavelmente procurada pela noiva (sob minha indicação e com meu auxílio) e encontrada em João Monlevade/MG depois das buscas já terem alcançado até São Paulo sem sucesso;

  • a embalagem das almofadas dos padrinhos, feitas com papel de pão e fechadas com linhas de sisal e linhas semelhantes às da cortina de franjas;

  • e a lembrancinha levada pelos convidados: pares de corações feitos de feltro, unidos por uma fita de tecido e projetados (por quem vos fala!) para serem colocados nos retrovisores internos dos carros.

 

Ufa!... Muito trabalho! Ficamos des-mai-a-das!!!

 

Mas vamos falar de coisa boa, vamos falar que, de todos os momentos lindos que esse projeto me proporcinou, ainda teve um mais especial: a doce função de Porta-Aliança desse Casamento. ❤️  E por todo esse encanto, por tanto amor envolvido em cada detalhe, não haveria mesmo melhor trilha sonora para a chegada do casal à Recepção, que All You Need Is Love; não teria melhor frase para ilustrar as almofadas espalhadas pelo lounge, as presenteadas aos padrinhos e a mim, que All We Need Is Love; e não teria melhor palavra para a esculturinha da mesa de entrada da festa e, hoje, da mesa de entrada do apartamento do casal, que LOVE; porque amor é realmente tudo de que precisamos!

 

 

Não deixe de ver como tudo ficou nas fotos logo aqui abaixo. Vai que eu tô mentindo!!!... Ah, e aproveite também pra ver o vídeo-convite que fiz para o Chá-De-Panela do casal aqui.

 

 

Projeto de Janeiro de 2012 a Abril de 2013.

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